“Quase nada recordo
daquilo que não esqueci”
Para onde é que foi o tempo? Atrevo-me a perguntar.
Tenho 19 anos, quase 20 e verdade se diga que pouco ou nada me recordo do “eu” criança, do “eu” nos primeiros anos de adolescência, e de todos os inúmeros acontecimentos relações, emoções marcantes que vão sendo e foram o tijolo e cimento com que eu fui estruturando o “eu”, a minha personalidade, meus gostos , minhas paixões, o modo como me vou amadurecendo.
Fiquei completamente deslumbrado, absorvido, totalmente entregue, quando por acaso fui abrindo os álbuns de fotografias que estão no armário da sala.
A pouco e pouco ondas de recordações e emoções iam-me iluminando a mente, banhando a minha alma, levantando o véu de uma sala cinzenta, que dentro de mim se encontrava. Cheia de imagens, acontecimentos, momentos, experiências, sensações, todas muito acizentadas, inibidas pela crueldade do quase esquecimento a que estavam a ser remetidas por mim, ainda que inconscientemente o tenha feito.
Conforme fui subindo o patamar da idade, penso ter sido, a pouco e pouco absorvido por uma neblina que gradualmente me terá inibido a capacidade de “fácil recordação” levando assim a que algo passado não se me apresente tão clara e transparentemente como desejaria. Penso que seja normal, já que talvez seja um pouco difícil ter-se a capacidade constante de recordar todo um ”n” nº de coisas, acontecimentos, etc., sem que algo se perca ou se nos apresente menos nitidamente (pelo menos para mim).
Verdade se diga também, que as fotografias “andam cá” é para isso. Para actuarem como catalisadores, que desencadeiam uma certa quantidade de desarrumações nas “dispensas” das recordações onde os caixotes arrumadinhos e descansadinhos se abrem de novo para permitirem que adormecidas emoções, etc., floresçam de novo ao simples contacto visual com aquele pequeno (ou grande) pedaço de “papel” em que está imortalizado um cagagésimo da “nossa” história.
Fotografias de mim em puto, calças rotas nos joelhos de tanto jogar ao berlinde e à bola, a mudança de dentes, os aniversários, com os sorrisos de familiares e amigos a iluminarem momentos de grande alegria e felicidade, o seu antes e agora, o meu antes e o meu agora, as minhas fases, o cabelo curto, orelhas sobressaídas em bico, mais gordinho, o cabelo médio a comprido, o aparecimento da barba, o usar da barba, as fases dos outros, os sorrisos que dei ao “rever” o meu primo de à uns anos atrás, meus amigos, pessoas que conheci, amizades que vivi, que vivo, a minha priminha em meus braços enquanto bebé, lágrimas ao ver a maneira terna como os meus pais se contemplam lá longe em Jersey, quando uma cantrefada de quilómetros nos separavam e apenas as suas vozes, letras num papel e as reconfortantes fotografias quase faziam esquecer a sua ausência, Os meus avós que me viram crescer, que me aturaram a mim e ao meu primo (e ainda o fazem!), muita paciência, amor, dedicação, sempre presentes, família, os festejos da praxe, Natal, Páscoa, Ano Novo, o Champanhe, as anedotas, a troca de prendas, comida, os enfeites, o brilho nos olhos da criança mais nova, o raio de uns ténis que eu adorei e já nem me lembrava! Choro. Mas de alegria, desta saudável nostalgia que me embala, que me abraça, lá for a lua é minha testemunha.
Tanto que eu gostava que ao auto-fotografar-me agora pudesse imortalizar este momento que descrevo, a corrente de emoções que me atravessam e as imagens que correm na minha mente para assim mais tarde poder olhá-la e poder ser saudavelmente surpreendido por tudo o que aqui tentei descrever e relatar, ainda que de forma geral, porque mesmo que o quisesse fazer de modo completo jamais o conseguiria, já que não existe vocabulário suficiente, mesmo para o mais magnífico dos descritores, para irradiar e transmitir tudo o que um “simples pedaço de papel especial” com uma imagem em si incorporada consegue fazer.
Para onde é que foi o tempo?
Atrevo-me agora a ensaiar uma resposta.
Sempre cá esteve e para sempre estará, a nossa vida consigo caminha, ainda que em certos momentos nos pareça ser mais depressa ou devagar. Mas algo é garantido, a imagem de uma fotografia a nós particularmente querida ou especial, só morrerá se tudo o que ela representar seja por nós desprezado ou ignorado, caso contrário nem sequer envelhecerá.
5Jun99
MárcioCosta
... e a realidade
bateu-me à porta ...
***
Quantas vezes eu te o disse
Com o espanto de quem na realidade desconhecia
Que tudo pudesse mudar
Que eu te perderia.
Espanto esse
Por uma mulher magnífica a meu lado ter
Por a meu lado querer estar, talvez ficar
Até o tempo se esquecer.
Mas só poderia ser bom demais
Ter mulher tão bela a me amar
Ter um Anjo em meus braços
Até o meu “ser” se apagar.
És selvagem
Transbordante de sensualidade
És irreverência
Contradição entre calmaria e velocidade.
Não foste minha!!
Na realidade, a meu lado escolheste ficar
E por isso eu já sou feliz
Porque sei o que é ter uma Fada em meus braços a repousar.
Pois então vai!!
Voa outra vez, sê livre e cresce
Corre mais rápido que o vento
Detém a inspiração do mundo, eleva o teu alento
Conquista, descobre-te!!
Felicidade em meus olhos ao assim ver-te
Que teus sonhos se transformem em realidade
És um mundo inteiro
Belo, Magnífico, uma encantadora Formosidade!!
Saí de casa atrasado
Mas levantei-me a horas
Sou uma lesma para me “arranjar”
My middle name is Demoras
Aí vou eu de mota
A tentar compensar o tempo perdido
Mas(para variar)apanho com um autocarro
E fico logo vencido
Apanho o comboio
Troco na habitual estação
Entro no outro
Vejo o destino e digo:“Oh não!!”
Errei o meu destino
No comboio errado eu entrei
Já nem atrasado chego
Porque só no fim da aula eu chegarei
Dar a volta, vou desanuviar
Cheio de sono,
acabo por resistir à aula final
Agora, para casa vou retornar.
20.Abr98
MárcioCosta
Reis dos Matraquilhos
Quinhentos “paus” para destrocar
Vai uma nota
Vêm moedas
Prontos para jogar numa mesa janota
A malta tira os casacos
Arregaçam-se as mangas
Mãos nos manípulos
Não se admitem “tangas”
Bolas saiem
Depois da moeda entrar
Vai uma ao centro
E a malta começa a jogar
Começa-se a aquecer
E as bolas vão entretando
O defesa faz o que pode
O jogador de fora vai contando
“Porra!” Bola entra, mas sai
Azar! Faz parte do jogo
Chateado. Desconcentração,
e a bola na tua baliza cai
“Tchau! Adeus!”
Venha o próximo
Começa-se outro jogo
Até estoirar, é sempre a dar o máximo
Acabaram as moedas
Mãos todas cagadas
Abana-se a camisa
Células epidérmicas transpiradas
A malta “baza”
Mas a noite não está acabada
Ainda só é uma hora!
E esta foi só mais uma matraquilhada.
MárcioCosta
24.Abr.98
Abraça-te
Deambulando pela casa
Só para não estar parada
O silêncio fecha-se em ti
Sentes o quarto vazio e gelado.
A solidão junta-se a ti
És empurrada para o vazio
O tempo presente não esta; mais aqui
Apenas recordações do passado
Que a tua memória não destruiu.
Finalmente a tristeza chegou a ti
Páras, e deitas-te na cama
Sem nada a que te agarrares
Tens as lágrimas por um fio
Sem conforto,
Sentes a dor interior
Que te leva para o fundo
E te afoga repetidas vezes
Apatia corre pelas tuas veias
As lágrimas deslizam no teu rosto
O sofrimento está a esmagar-te
Deitada e fraca sem ninguém para abraçar
As lágrimas continuam a correr
A dor não desaparece
Talvez encontres conforto se adormeceres
E só de manhã acordares
Abraça-te, estás só
Abraça-me
Ainda não me fui de todo embora...
24Abr.99
MárcioCosta
Alguém que julga(va) não ser possível ter a capacidade de cativar
aquela que o completa-se, de modo a poder erguer-se da sua
intransponível e cíclica solidão.
Depois de momentos de pura solidão emocional, tendo-se auto
denominado um “filho enfraquecido”, sobre os seus olhos mortos,
onde se reflectia uma alma vazia, um raio de luz fluente de amor e
paixão conseguiu quebrar o contínuo momento de solidão
estagnado nas veias da emoção, bombeadas estas a todo o momento
com desilusão, tristeza e desvanecimento, por intermédio de um
coração fraco e instável.
Finalmente o sol brilhou no buraco onde pacientemente desesperando
vivia/vive “cego” e inconformado, finalmente sentiu/sente o calor das
chamas da paixão, a felicidade transpareceu, autoconfiança deu lugar
ao sentimento de inferioridade, novas “portas“ sentimentais se abriram,
“portas” até então desconhecidas.
Na sua mente, cada fim do dia se assemelhava/assemelha a um pôr do
sol, único, irradiante de beleza, tal como aquela , pela qual o pôr do sol
era/é originado.
Embalado foi/é pelo pensamento da reflexão, da exuberância e magni
ficência do seu sorriso, dos seus olhos, que mais parecem duas luas
cheias numa noite de verão abafada por uma brisa amena, com o aroma
do seu perfume no ar, onde é impossível resistir a um esvaziamento e
descontracção absoluta.
Mas, iludido e cegado por indagações sentimentais, assim como pelo
Tempo, ele repeliu, reflectiu o “raio de luz” para longe de si.
Erro “crasso” por si cometido, já que não voltaria a desfrutar de tão
quente, acolhedor amor e intensa paixão como tinha desfrutado.
Tendo o Tempo aberto os olhos e desanuviado o pensamento e o
coração, contrariamente ao que tinha feito em primeiro plano, neste
tal alguém voltaram a florir os sentimentos, emoções, paixão, recorda
ções até então adormecidas dentro de si, reinando agora a expectativa,
interrogações e dúvidas, relativas ao regresso do ”raio de luz”...
09.Fev.97
MárcioCosta
Cruzada
Para além do muro corporal.
Para lá da aparência.
Onde a pureza é total,
a minha alma afoga-se em carência.
Lá no sítio onde se lamenta o passado.
Onde se contempla a flor da idade,
O meu espírito vagueia em busca de serenidade.
Mas não há nenhuma sombra acolhedora,
na qual possa repousar.
Na qual possa terminar a viagem d’outra hora,
de modo a ter paz e sossego, sem me incomodar.
Embora, esse momento não chegará,
porque a alma se encontra incompleta.
Pelo que não descansará,
até que se sinta completa.
22.Abr.97
MárcioCosta
Ridículo
Nada a dizer
Nada a sentir
Vago escrever
Forçado sorrir
Silêncio necessário
Vazio pendente
Sou ou não sou otário!?
O meu coração está dormente
Sentimentos diluídos
Perdidos nos impulsos nervosos
Neurónios esvanecidos
Jogos da mente ranhosos
Vagueando pela escola
Vou eliminando o tempo
Naturalmente Sarrazola
Porra, sou mesmo cabeça de vento
Caindo suavemente no meu abismo
Voluntariamente não resistente
Como uma folha no Outono
Que cai levemente durante um sonho
Qualidade sentimental indefinível
Estritamente infinita
Largamente imbatível
Tudo o que é de bom me evita
Porque é que estou assim?
Porque é que sou assim?
Apetece-me chorar e desaparecer!
Vontade tenho de amar e morrer!
21.Mai.97
MárcioCosta
Dear Mr. Jesus, I just had to write to you
Something really scared me,when I saw it on the news
A story 'bout a little girl beaten black and blue
Jesus, thought I'd take this right to you
Dear Mr. Jesus, I don't understand
Why they took her mom and dad away
I know that they don't mean to hit
with wild and angry hands
Tell them just how big they are I pray
Please don't let them hurt your children
We need love and shelter from the storm
Please don't let them hurt your children
Won't you keep us safe and warm
Dear Mr. Jesus, they say that she may die
Oh I hope the doctors stop the pain
I know that you could save her
and take her up to the sky
So she would never have to hurt again
Please don't let them hurt your children..
Dear Mr. Jesus, please tell me what to do
And please don't tell my daddy
But my mommy hits me, too.
Please don't let them hurt your children...
by Richard Klender
http://www.dayofthechild.org/dc98/poems.htm
Lashes Of Life
The lashes of life you may not see just by looking at me
I have hid the emotional scars deep within
And I have pretended my tears were diamonds.
My mother beat me most of the time with an invisible whip
made with hurtful words that cut deep
But no one read the abusive signs, I carried like chains
When she thought I hadn't suffered enough
She beat me with anything close to her hands
And each time when she finally let me go I ran
Hoping to find a way of escape no matter my childhood age
I was a frightened child, for I lived in the devil's rage
Even now that I am a grown woman
That frightened child lives within me
But I hide her so the world will not see
What a "Mother" did to her
When my mother died, people wondered why I hardly cried
I, and the child within me watched as mother was lowered
In her deep dark grave, and I knew she would never again
Hurt the little child within me
I now know JESUS, and I love Him so
He sees and knows the little frightened child within me
JESUS is gently healing the scars mother's lashes made
And I thank JESUS because I believe
One day this frightened child will be FREE
Janice Stancil
Doces Verdades
“Nós”, ainda ontem, putos novos acabados de chegar,
com a mala apinhada o mais possível!
Personalidades e mentalidades tão puras e inocentes,
constantemente a divagar, flutuando entre a fantasia
e a realidade, caminhando na linha do imprevisível.
“Elas” já lá estão.
De braços abertos, irradiando carinho constante.
Olhar tão compreensivo e doce, mesmo que estejam de plantão.
Sempre prontas a dar um apoio e conselho motivante.
Um piscar de olhos leva consigo uma carrada de tempo,
e o termo “puto” já não faz sentido.
O corpo e a idade das crianças voa embalada nas asas vento,
sem que se possa fazer algo em relação a tal acontecimento.
Mas o cimento e tijolo da memória e da doce recordação
jamais caíram no esquecimento.
Vai-se a ver e já estão de saída!
Senhoras robustas, homens fortes e de barba à medida.
Um pedaço do “seu” coração á muito já conquistaram,
e um sentimento de nostalgia, dir-se-à, que já deixaram.
Mas outros virão, e o ciclo nunca acabará.
Um dia destes, mais cabeçinhas de vento lá estarão.
E cada uma “delas” lá retornará.
Tão doce e carinhosa como da primeira vez.
Tão compreensiva e amorosa pela infinitésima vez.
Por lá, um pedaço do coração também deixei,
nas mãos de uma nova mãe que lá encontrei.
04.Jun.97
MárcioCosta
Estes versos foram escritos como forma de agradecimento a uma "contínua"
da Escola Básica 2 + 3 da Sarrazola, quando o Márcio terminou o 12ºAno.
Âncora
A minha vida é uma monotonia
Uma linearidade repetitiva e constante
Vivo por ciclos e etapas
Sentindo-me ocasionalmente inundado
por uma sensação pesada e frustrante.
Não me sei divertir
Também não tenho muita gente com quem o fazer
Remeto-me ao isolamento
À espera que o tempo possa desaparecer.
Sinto falta do bem estar
Das recordações que nos fazem sorrir
De histórias para contar
Das situações que nos fazem rir.
Mas nada disso estou a fazer
Porque ainda me sinto muito incompleto
Esse vazio é avassalador
E está sempre tão perto!
Palavras de desabafo
Ou de nem sei o quê
Escrevo e escrevo, mas tudo permanece
A sensação não se altera, por mais voltas que dê.
Quero alívio
Quero gritar
Mas estou resignado ao facto
De nada ir mudar...
07.Mar.00
MárcioCosta
30 MESES DE SAUDADE
Don’t grieve for me, for now I’m free,
I’m following the path God laid for me.
I took his hand when I heard his call,
I turned my back and left it all.
I could not stay another day,
To laugh, to love, to work, to play.
Tasks left undone must stay that way,
I’ve found that peace at the close of the day.
If my parting has left a void,
Then fill it with remembered joy.
A friendship shared, a laugh, a kiss,
Ah yes, these things I too still miss.
Be not burdened with times of sorrow,
I wish you the sunshine of tomorrow.
My Life’s been full, I savored much,
Good friends, good times, a loved one’s touch,
Perhaps my time seemed all too brief,
Don’t lengthen it now with undue grief.
Lift up your heart and share with me,
God wanted me , He set me Free.
Ridiculous
Thoughts
Hello! Here I am again
To speak and feel my sorrows
Drowned in my heart shaped pain.
Today I thought of her
I wished I were in her arms
Being comforted, with a thing called love
But no, I’m alone in my room and I’m just dreaming.
The only one that holds me is sadness
I miss the comfort in being sad
So that I can be held.
Although I have much love to give
I have no one to give it to
I'm the harvester of sorrow
I'm not interesting.
My soul just fades away as I’m speaking
I wish that someday I could fall into her kiss
But until then
I'll keep dreaming my dreams...
8.Dez.95
MárcioCosta
Melancolia
Sou comandante de um navio
Navego num mar de solidão
nas correntes do meu coração.
Só e sozinho vou passando
indiferente e despercebido.
Sem tripulação, navego para o nada
caindo na escuridão do meu coração,
quem eu desejo não me vê e não me liga.
Sendo assim reconforto-me com uma
tristeza que me vai sustentando.
No meu navio vivo sozinho
No meu navio me resumo
Ainda não fui amado por quem desejo
talvez por isso, não sei amar.
Mas como isso não faz diferença a ninguém ...
Levanto a vela, sem significado ou em vão
Esperando que um vento de tristeza me leve
para o lugar mais mórbido do meu coração.
03.Mai.96
MárcioCosta