Querida mãe,
Lembras-te da alegria
e do receio, quando eu nasci?
Lembras-te da dor
e da loucura quando eu morri?
O Mundo precisou de ti!
Porque parar sobre a minha campa a chorar?
Não é lá que me vais encontrar...
Procura-me no Mundo.
Ele precisa de ti!
Eu sou o vento que passa a soprar.
Eu sou o diamante de neve a brilhar.
Eu sou o Sol que amadurece a seara e grão.
Eu sou a suave chuva de Outono que cai no chão.
Eu sou a vida que tu fizeste nascer.
Essa vida jamais poderá morrer!
Um sorriso teu pode fazer alguém mudar!
Com uma palavra podes fazer o mundo girar!
Eu estou vivo, não morri!
E o Mundo precisa de ti!
Abre o teu coração
E sente este meu beijo doce
“ Feliz Dia Mãe”
ACASO
Que mais eu hoje escreverei, senão que me sinto derrotado.
Derrotado pela solidão, derrotado pela realidade e pelo vazio.
Entrego-me voluntariamente à força que até agora me dominou.
De repente uma luz na janela do meu quarto chama-me à atenção.
Debruço-me sobre a janela e observo a lua coberta como que por
um véu de luz, irradiando sentimentos de conforto.
A linha descontínua e discrepante da serra no horizonte,
contrastando com a cor do céu lá no fundo, transmite-me a essência
e virtude que me poderá levar a superar uma linha paralela a esta
que vejo, uma linha irregular que se associa ao caminho
que me levará à felicidade.
As casas isoladas, associo-as aos meus pensamentos perdidos,
a linhas de raciocínio perdidos pelo facto de em ti estar a pensar.
O ar, o ambiente desta noite singular, deixa-me descontraído, em
harmonia com os primórdios sentimentais da minha alma, com os mais
simples e verdadeiros sentimentos essenciais da minha personalidade.
Como eu desejava que aqui estivesses, para poderes comungar deste
momento comigo, inalar este ar fresco e revitalizante, que eu desejo,
que nunca acabe.
Então, mais uma vez passarei um momento especial de felicidade
sozinho, sem um conforto de um toque particular, o teu cheiro
característico, o teu sorrir.
Fecho a janela, dou dois passos e viro-me para trás, contemplo mais
uma vez a paisagem que me acolheu, e penso que me fundi com ela,
pq aliviado fiquei, da dormência e dor que durante o dia me sufocaram.
Ficarei à espera de outra noite como esta, para me poder libertar daqueles
momentos estagnantes, e porque tenho consciência que tão cedo não
superarei a “linha do horizonte”.
Márcio Costa
21.Mai.97