Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio dos outros.
Clarice Lispector
Quando visitei a minha alma, pude perceber a vida por debaixo da vida.
Pude perceber que a vida não se limita a fragmentos da realidade,
mas sim a plenitude. Quando focalizei a minha atenção na intimidade
de cada coisa, estabeleci profunda perceção com a espontaneidade das
pessoas, dos eventos e dos factos. Desvendei a geografia interna das
repressões, das limitações e das ilusões e senti o pulsar das minhas veias,
que exprimem que aquilo que eu “sinto” vale mais do que aquilo que vejo ou ouço.
Quando visitei a minha alma, abracei o meu centro e distanciei-me dos medos, das perdas, das crises, dos traumas, e toquei muito além do abraço da essência de todas as criaturas do mundo, e senti a confiança em absolutamente tudo que me cercava. Vislumbrei a forma das “minhas sombras” e não as ignorei, nem as neguei. Ao contrário, pude discernir e aceitar a diversidade, o processo, o tempo e a natureza de cada ser.
Quando visitei a minha alma, descortinou-se o véu das imposições errôneas, das injustiças e das penitências a qual me submeti durante esta e outras vidas, nos porões da inconsciência e no submundo da minha própria ignorância. Fiz então uma verdadeira revolução nas atitudes medievais da incoerência e servidão que estavam enraizados na minha mente e que atravessavam o tempo. E por fim, ainda pude perceber que a fixação neurótica de factos do passado, estavam a impedir o meu crescimento no presente e que somente através do auto-perdão, eu poderia retornar desta visita com a paz de espírito e a serenidade para ser eu mesmo, respeitar as diferenças e entender que nesta breve passagem, somos todos aprendizes.