Sentado na areia, ao fim do dia, tão cansado e impotente que mal consigo pensar com coerência. Coração quase tão frio como a areia, quase tão só como a primeira estrela que no céu aparece aquando do lusco-fusco.
Vontade de estar com alguém, mas necessariamente tenho de estar só, talvez por achar que tristeza de vez em quando é saudável, talvez por, mesmo que quisesse, não teria companhia.
Mas se considero a tristeza saudável, porque é que me sinto sufocado, com um enorme aperto no peito, que me deixa morto fisicamente, inerte, em fusão com a paisagem e com o momento que contemplo, embalado pela inconsciência!
Pôr-do-sol, imagem magnífica, singular que se repete dia a dia, após dia, mas especial e particular de todas as infinitas vezes.
Passividade que me dá uma facada na alma, no equilíbrio interior, descontrola-me, perco o domínio e o equilíbrio entre a tristeza e o sofrimento, do sonho e a fantasia, tornando-me permeável, vulnerável a todo e qualquer sentimento.
Absorvido pela radiação de um sol moribundo, imagens ocorrem a minha mente, já não sei se estou consciente ou à deriva num sonho (embora que acordado).
À medida que o sol se vai afundando na linha do horizonte, a minha alma vai ficando cada vez mais vazia, o meu coração vai ficando cada vez mais afogado, na tristeza que me envolve.
Quero chorar, mas não posso, não consigo, nunca consigo, mas uma lágrima desce o meu rosto, nela se funde todo este aglomerado de sentimentos, a essência deste momento ímpar.
Cai na areia, é de imediato absorvida, juntando-se a tantas outras que também já o foram, tornando-se um insignificante grão de areia que habita no mundo desta praia de lamentações
O sol desaparece no horizonte e leva consigo todo o meu ser, todo o meu desejo, fantasia, deixando-me tão duro e inanimado como um rochedo, não, uma pequena rocha, já que esta é mais insignificante, e quebrado foi o momento do meu sonho.
“Acordo” deste transe, desta corda bamba de realidade e ilusão, onde pude pesar o pensamento e o sentimento, o desejo e o possível, a irreverência e a postura formal, a coerência e o divagar, em função de procurar uma definição do que vai por dentro.
Recordo a inconsciência, a minha inocência, a pura verdade, os meus sonhos e o meu desejo, que toma forma num teu eterno e envolvente beijo...
13.Jun.97
Márcio Costa